terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Arrastão na Praia dos Ingleses (Florianópolis - SC)


É apenas sete e pouco de uma manhã de sol e a areia já se encontra repleta de banhistas. Em meio aos diversos guarda-sóis coloridos de uma das praias mais frequentadas pelos hermanos, chega silenciosamente uma embarcação seguida por gaivotas a pegarem a parte que lhes resta deste arrastão.

Pescadores começam a desembarcar e em gestos mecânicos retiram a rede do mar, arrancam os peixes grudados nela, jogando-os na areia. Eles fazem isso sem falar nada, cantar nada, ou expressar qualquer reação, tudo não passa de um trabalho e eles parecem concentrados nele.


Logo aparecem curiosos, novos e idosos. Alguns vieram apenas observar, outros estão à procura de peixes frescos para o almoço ou o jantar. E há ainda os que estão dispostos a ajudar, mesmo sem parecerem entender o sistema da colheita. O trabalho com a rede demora alguns minutos, enquanto parte da caça (vários pequenos peixes) está amontoada na areia como um troféu.



Banhistas desavisados passam e olham atônitos para o que não entendem. Uns fingem não olhar, e observam com o canto do olho, como se fosse pecado cuidar da vida dos outros (uma contradição em tempos de "Big Brother Brasil"). Já as mais espevitadas olham mesmo, param, tiram fotos e tentam puxar papo como se fossem velhas conhecidas (mas com sotaque de fora o que indica que não passa de uma encenação mal sucedida).


Alguns peixes ainda se debatem e outros tentam, inutilmente, respirar. Acompanho este último sopro de vida dos capturados pensando que isto é mais cruel que comer carne de boi. Centenas de peixes foram de forma tão abrupta tirados de seu habitat e sufocaram até a morte. Penso, contrariando os [pseudos] vegetarianos que comem carne branca, que talvez tratamento melhor exista em alguns frigoríficos.

Aos poucos os curiosos vão se dispersando: é só mais um dia de praia nos Ingleses! Enquanto isso, o cão passa despercebido entre os banhistas, as beldades discutem sobre o tempo e silicone, e a família feliz arrisca a vida brincando no Banana-boat.


(clique nas imagens para ampliar)

Texto: Alessandra Knoll Pereira
Fotografia: Gabriel Pereira Knoll





2 comentários:

  1. (uma contradição em tempos de "Big Brother Brasil) essa observação, sagaz, valeu o texto inteiro. Abraços.

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  2. APETITOSAS GORDINHAS


    Os pescadores da grande Floripa
    Estão pra lá de faceiros.
    Tudo por conta dessas
    Sagradas águas salgadas
    Apinhada de tainha.
    Aqui nos Ingleses,
    Foi magnífico de se ver.
    Num lanço só,
    Foram 60 toneladas
    De apetitosas gordinhas.
    É tainha pra dar e vender.
    Essa safra promete
    Ser farta e memorável.
    Somos ou não somos
    Um povo abençoado?
    Sem dúvida,
    A mãe natureza é assaz generosa.
    Sem ela já éramos.
    Portanto, por tanto mesmo,
    Deixemos de ser filhos
    Ingratos e agressivos!


    Júllio Machado (2010)

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