quinta-feira, 3 de maio de 2012

Tabajara Tênis Clube & DieKneipe


O Tabajara Tênis Clube é um dos diversos clubes que existem principalmente nas cidades do interior. É um lugar para recreação, festas, encontros, negócios e (obviamente) representa status. Hoje falarei do bar onde, à noite, rola apresentação de bandas e DJs. Venha comigo!


O clube compõem área de lazer, salão para festas, restaurante, vários salões (cheios de obras de arte pindrados nas paredes), piscinas, bar e (claro) quadras de tênis. Mas o que está implícito não é material, é mesmo o status, a questão de fazer parte de um grupo. O clube tem tudo que o homem precisa desde a pré-história: tem a hierarquia, o poder, a troca, e os ritos de passagem. Estes últimos são os mais importantes. Dentre eles há o debut, ou chamado baile de debutantes, em que as moças do clube que estão fazendo 15 anos tiram fotos (que irão parar em porters e convites para a "alta sociedade") vão às compras e se embelezam todas para uma grande festa em que tentam mostrar que são bons partidos. Hoje em dia a coisa toda está mais atualizada, as moças devem estar "mais espertas", mas o sentido de corte continua o mesmo. Além das fotos das debutantes há paredes com quadros de comemorações passadas, honrarias e tudo que pode enaltecer o ego do homem e de sua família; e por gerações, acredite!

 O mais suspreendentes foram as revistas do clube. Tie Break é o nome da revista, e pelas capas se vêem os assuntos: tênis, moda, negócios, dicas culturais em geral. Ao abrí-las percebe-se que são propagandas dos médicos, veterinários, dentistas artistas e todo tipo de profissional ou socialite que faz parte do clube. Há também dicas dos lugares bons para viajar e como crescer profissionalmente. A coisa do clube deixa de ser lazer e se torna mais uma seita, uma religião, ou uma coisa mais parecida com maçonaria, enfim, algo por trás do laser esconde uma aura de "vamos ficar ricos juntos". Ou, quando pior "vamos nos unir contra os outros", porque quanse todo clube desse tipo tem também um sentido de exclusão de "somos melhores que aqueles" e esse tipo de maluquice. Para manter o status o clube limita o número de sócios em torno de mil, e (muitas vezes) se recusa a aceitar sócios. Tudo isso, torna o clube sinônimo de seletividade, exclusividade e nobreza.

 E para os que estão fora da "panela" vira sinônimo de gente esnobe. O atendimento geral era péssimo, não sei se é coisa da cidade, ou se era algo de esnobe, eu não consegui decifrar. Não pude saber se o garçom é sempre surdo e a comida vem sempre fria ou se tudo isso seria melhor se eu frequentasse sempre o lugar ou tivesse com uma Louis Vuitton (original ou falsificada, pois não parecia que o atendente saberia mesmo a diferença). De qualquer forma, de um modo geral, aquele era o lugar perfeito para quem gosta de fazer pose, pois, na verdade, a pose era quase obrigatória.
Um pouco de cultura possa fazer bem nessa hora: poser é uma palavra inglesa que remete ao que sociólogos (como Pierre Bordieu) definem como uma classe que não tem tanta grana quanto queria mas gasta para fingir que tem. Uma coisa bem lógica, mas acreditem que há estudos bem mais aprofundados e que não daria para resumir aqui. Para simplificar bem (o que é um crime - resumir fundamentos de um cientista Francês) há os ricos de berço, os novos ricos, os posers e os outros (para não dizer os "ferrados"). Os ricos de berço tem cultura, nome ect etc etc, e são imitados pelos novos ricos. Os novos ricos são aqueles que compram uma obra de arte caríssima embora não entendam o que significa e nem gostem de arte. Já os posers não tem nem berço nem grana, mas querem ter: penso que uma grande gama de pessoas que se associam à estes clubes devem se encaixar aí. Mas claro que a maioria nos nomes estampados nas honrarias na parede (muitos textos escritos em alemão) deveriam ser mesmo gente nobre. Mas e daí? a nobreza já acabou-se junto co a idade média, ou não. Olhem, às vezes parece que não, fica parecendo mais com o filme futurista "o preço do amanhã" em que muitos trabalham para que poucos vivam a vida a desfrutar do melhor.Hoje é assim, e na idade média também, não parece que mudou tanto assim. Quando se vai para um lugar desses, é que a gente percebe todas essas coisas de "pertencer a tal ou qual família" e coisas daqueles filmes da época dos palácios. 

Todos estes tipos de gente poderíamos encontrar no Bar aquela noite, ou O Boteco, já que o nome  Die Kneipe significa literalmente O Boteco em alemão. No Boteco havia bebida de boa qualidade e espaço relativamente bom e confortável. Há, o conforto e a elegância são o ponto forte deste Clube. Requinte é a palavra de ordem, nada de menos é mais, lá mais é mais: há couro até nas paredes onde se senta em poltronas meia-lua.e pede-se um belo drink. A verdade é que esse povo sabe se divertir, lembrei da loirosa Val Marchiori do "mulheres ricas" da qual teciam elogios de "como você é alegre e sabe aproveitar a vida". Bom, dê-me milhões um champanhe na mãe e nenhuma consciência social que eu também saberei aproveitar bem a vida. Quero ver aproveitar a vida com 640,00 pila e trabalhando de segunda a sábado (44h semanais). O povo do Boteco chique provavelmente gastou mais de 600 só naquela noite, fora a produção para chegar lá. A maioria das mulheres de saias pretas curtas e blusas chiques, cabelos super alisados e bem maquiadas. O normal era um balde com espumante, a galera estava animada e cantaram o show inteiro os covers (dos anos 60 até atualidade). 




Mesmo depois de festejar, dançar e cantar o show inteiro a galera ainda estava a mil para ouvir o DJ até o fim da madrugada. Se a banda estava boa, o DJ estava inaudível de tão alto! Mas o pessoal ali não se importou, pelo contrário: ficaram alucinados. Sendo assim fui embora observando as BMWs no pátio. Não desejei ter aquela vida, fiquei pensando que não há como todos no mundo terem todo este luxo, alguém acaba saindo perdendo. Alguém tem que trabalhar enquanto esse povo bebe espumante, compra e se diverte. Alguém tem que pagar o jatinho e a escolta que levou o filho do cantor Leonardo pro hospital. São os clubes, os donos do poder, a maçonaria, ou como quer que chamem. Mas esses clubes, que geralmente são um local de encontro, podem ser também um clube no sentido figurado (sem ter sede certa ou formalidades). Pode ser no sentido de ser àquele grupo fechado em que se percebe um tipo de igualdade entre os membros, como um grupo de músicos que tocam juntos e todos eles (inclusive seus amigos, produtores etc) usam óculos Ray Ban. Fica claro que sem usar um Ray Ban você não chega muito perto deles. E assim, há outros exemplos, como fazer parte de um moto-clube sem ter moto. Aí tem de tudo, o clube dos casados, dos desquitados, dos com iate, dos sem iate (mas que pretendem ter), dos com casa na praia, dos que passam férias no campo, dos que têm amante, dos que têm filho, os que não têm. Eu faço parte do grupo que pega ônibus, é um grupo grande, mas muito desunido.


Texto: Alessandra Knoll Pereira
Fotografias: Gabriel Pereira Knoll

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